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Agosto Dourado e os benefícios da amamentação para o desenvolvimento orofacial das crianças

O Conselho Federal de Odontologia e os 27 Conselhos Regionais de todo país destacam a importância do aleitamento materno e a relação positiva entre saúde bucal e amamentação.

O Agosto Dourado é uma campanha criada em 1991, nos Estados Unidos, pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) com objetivo de reforçar e incentivar a importância do aleitamento materno. Por este motivo, neste mês, o Sistema Conselhos, composto pelo Conselho Federal de Odontologia e os 27 Conselhos Regionais de todo país, destaca a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento adequado da dentição e das funções orais das crianças.

A cor dourada foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, que considera o leite materno um “alimento de ouro”. No Brasil, a campanha de Agosto Dourado foi instituída pela Lei Federal nº 13.435/2017. De acordo com a OMS e o Ministério da Saúde, a recomendação é que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os 6 meses de idade. E mesmo após a introdução dos primeiros alimentos sólidos, que sigam sendo amamentados até, pelo menos, dois anos de idade.

A conselheira do CFO, Sandra Silvestre, que é especialista, mestre e doutora em Odontopediatria, destaca que o aleitamento materno desempenha um papel essencial na saúde bucal. “Além de proporcionar benefícios nutritivos e imunológicos, o aleitamento materno auxilia no crescimento craniofacial adequado e no desenvolvimento da respiração, deglutição, fala e mastigação. Ou seja, estamos falando também de bem-estar e qualidade de vida, fortalecendo o vínculo mãe e bebê com benefícios para a saúde da mãe, como redução dos riscos de hemorragia pós-parto, recuperação de peso e redução de chances de desenvolver câncer de mama e ovários”, complementa a conselheira.

A importância do aleitamento na saúde bucal

A odontopediatra e professora de Odontopediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Patrícia Bittencourt, explica que entre os benefícios que a amamentação proporciona está um bom desenvolvimento orofacial nos bebês. O ato de sugar o seio materno estimula os músculos da face, favorecendo o correto crescimento e desenvolvimento das estruturas ósseas, fatores que reduzem o risco de problemas oclusais.

“Bebês amamentados ao seio apresentam menor risco de desenvolver hábitos orais nocivos, como a sucção do dedo ou o uso prolongado de chupeta, além de apresentarem redução do risco de más oclusões”, destaca a professora Patrícia Bittencourt.

A amamentação ainda auxilia no desenvolvimento adequado da respiração, ao favorecer a integração funcional entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático, o que resulta na postura correta da língua e no vedamento labial eficiente.

Além disso, bebês amamentados com leite materno no primeiro ano de vida têm menor recorrência de lesões de cárie em relação aos que consomem fórmula infantil. Consequentemente, evita-se o consumo precoce de açúcares impactando diretamente na prevenção de lesões cariosas.

Principais problemas de saúde devido à ausência da amamentação

A ausência do aleitamento está diretamente associada ao aumento do risco de morte infantil, assim como pode aumentar a incidência de alergias, obesidade, diabetes, hipertensão e reduzir o desenvolvimento cognitivo. Da mesma forma, o desmame precoce resulta na falta de estímulos para o desenvolvimento craniofacial da criança, com impactos na saúde bucal.

Ressalta-se ainda que, pela ausência da amamentação, é comum a introdução de bicos artificiais, que também podem ser prejudiciais aos bebês. Isso ocorre porque, com uso de chupetas e mamadeiras, há a movimentação inadequada da musculatura facial, o que pode ocasionar hipertonia muscular e alterar a estrutura bucal. 

O papel da Odontopediatria no estímulo ao aleitamento

Recomenda-se que a primeira consulta ao odontopediatra ocorra logo nos primeiros meses de vida, antes do surgimento da dentição e se possível ainda na gestação (pré-natal odontológico). Dessa forma, o profissional poderá orientar a família sobre a futura higienização bucal, que deve começar após a aparecimento do primeiro dente, e principalmente fornecer informações que estimulem a amamentação.

“O odontopediatra tem papel relevante na promoção, proteção e apoio à amamentação, orientando pais e cuidadores sobre a importância do aleitamento materno exclusivo até os seis meses e o estímulo ao aleitamento até os 24 meses como forma complementar, conforme preconizado pela OMS”, complementa Patrícia Bittencourt.

Além disso, o odontopediatra pode atuar na identificação precoce de dificuldades orais das crianças, como a anquiloglossia, mais conhecida como “língua presa”, e dentes neonatais/natais, que podem comprometer a pega e a eficiência da amamentação.

Vale ressaltar que a amamentação é o único fator que, sozinho, pode reduzir em até 13% a mortalidade infantil por causas evitáveis. A meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde é que, até 2025, pelo menos 50% das crianças de até seis meses de vida sejam amamentadas exclusivamente. A expectativa é que esse índice, até 2030, chegue a 70%.

Quando começar a higienização bucal na infância?

A odontopediatra Patrícia Bittencourt esclarece que atualmente, a Associação Brasileira de Odontopediatria (ABOPED) e a Associação Americana de Odontopediatria não recomendam a higienização da cavidade oral antes da irrupção do primeiro dente.

Porém, após o nascimento dos primeiros dentinhos, recomenda-se o uso de escova de dentes infantil com cerdas macias e cabeça pequena, usando pequena quantidade de creme dental fluoretado (equivalente a um grão de arroz cru), com concentração entre 1000 e 1500 ppm de flúor. A escovação deve ser feita por um adulto, duas vezes ao dia, sendo uma delas preferencialmente antes de dormir.

Conscientização e atuação multidisciplinar

O incentivo ao aleitamento materno é uma estratégia de saúde pública com impacto global, promovida pela OMS e pelo Ministério da Saúde. A amamentação oferece benefícios nutricionais, imunológicos, emocionais, orofaciais e sociais para a criança, além de trazer vantagens para a saúde da mãe.

É importante que as várias áreas da Saúde promovam ações de incentivo e conscientização sobre a importância do leite materno, sendo a Odontologia uma das peças fundamentais nesse processo multidisciplinar de conscientização das lactantes.

“O cirurgião-dentista, especialmente o odontopediatra, deve atuar no estímulo ao aleitamento materno, orientando as mães sobre todos os benefícios da amamentação para o desenvolvimento do bebê. Esse é um tema de extrema importância e por esse motivo, todos os anos, o CFO realiza ações de divulgação do Agosto Dourado”, conclui a conselheira Sandra Silvestre.

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