Caso evidencia papel fundamental da Odontologia hospitalar e a excelência dos profissionais da especialidade Buco-Maxilo-Facial
Uma mulher brutalmente agredida em Natal (RN), com mais de 60 socos no rosto, teve a face reconstruída por uma equipe de cirurgiões-dentistas do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O caso, que gerou ampla comoção nacional, reforça a importância da atuação da Odontologia em cenários clínicos de alta complexidade, especialmente nas estruturas orofaciais.
A cirurgia foi realizada no dia 1º de agosto por especialistas em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, sob a coordenação do Dr. Adriano Rocha Germano, referência na área. A paciente apresentava fraturas múltiplas no nariz, olhos, boca, bochechas e maxilar. O procedimento, que durou mais de cinco horas, envolveu osteossíntese com miniplacas e miniparafusos, além de reconstrução de estruturas nasais. Toda a intervenção foi custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A equipe também foi composta pelos cirurgiões-dentistas Dr. Kerlison Paulino de Oliveira (cirurgião principal), Dra. Acsa Carlos Maia, Dra. Letícia Gadelha de Castro Crisóstomo, Dr. Artur Geovanni Borges Vital e Khalydia Oliveira Aby Faraj, todos vinculados ao programa de residência do HUOL.
“Casos como esse levam à sociedade uma mensagem clara sobre o quanto a Odontologia é fundamental no atendimento a pacientes com traumas orofaciais. É um trabalho que contribui para a valorização da profissão e merece reconhecimento”, afirmou o conselheiro federal do CFO, Dr. Eduardo Favilla.
Segundo o Dr. Belmiro Vasconcelos, presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CBCTBMF), traumas decorrentes de agressões afetam não apenas a estética, mas funções vitais como mastigação, respiração e fala. “É essencial garantir atendimento especializado e apoio para a reabilitação dessas mulheres”, reforçou.
Competência técnica e formação sólida
Com profundo conhecimento da anatomia facial humana, os cirurgiões-dentistas especialistas em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial são habilitados a realizar intervenções nas estruturas ósseas da face, com atenção a músculos, nervos, veias e artérias. A especialidade exige formação em residência hospitalar ou curso de especialização com no mínimo 3 mil horas (cerca de três anos) após a graduação em Odontologia.
De acordo com o Conselho Federal de Odontologia (CFO), o Brasil conta atualmente com cerca de 7,9 mil profissionais com essa titulação, atuando em consultórios, clínicas e hospitais em todo o país.
Entre os procedimentos realizados por esses especialistas estão cirurgias de reconstrução facial em vítimas de acidentes, agressões e quedas; cirurgias ortognáticas e de fissura labiopalatina; além do tratamento de infecções, cistos e tumores da face e do pescoço. Em muitos casos, o atendimento prestado por esses profissionais representa a diferença entre a vida e a morte.
Centro de referência e formação
O programa de residência do HUOL, vinculado à rede Ebserh e ao Departamento de Odontologia da UFRN, é um centro de referência nacional na área, com mais de 15 anos de atuação. O serviço atende casos de média e alta complexidade do SUS e conta com professores e preceptores altamente qualificados, contribuindo para a formação de novos profissionais e oferecendo assistência de excelência.
Segundo o Dr. Adriano Germano, não é incomum o atendimento a vítimas de violência, incluindo tentativas de feminicídio. “A reconstituição da face muitas vezes significa devolver a essas pessoas a dignidade, a autoestima e a chance de retomar suas vidas”, afirmou.
Trauma facial: dados e impacto
Levantamento do CBCTBMF, realizado a partir de dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), aponta que entre 2018 e 2023 foram registradas mais de 133 mil internações por fraturas de crânio e ossos da face no Brasil — uma média de 22,2 mil casos por ano, ou mais de 60 por dia.
A maioria das vítimas é do sexo masculino (81,91%), com predominância entre 20 e 29 anos, sendo os principais fatores associados os acidentes de trânsito (especialmente com motocicletas), seguidos por agressões e quedas. Em relação às mulheres, cerca de 8,7% das internações por violência envolvem fraturas faciais, geralmente causadas por tapas e socos.
Reconhecimento e valorização
O Sistema Conselhos de Odontologia — formado pelo Conselho Federal e pelos Conselhos Regionais, como o CRO-SC — reafirma a relevância da Odontologia hospitalar e da atuação dos cirurgiões-dentistas em equipes multiprofissionais de saúde. A dedicação, a técnica e a responsabilidade desses profissionais merecem o reconhecimento da sociedade e das instituições públicas.
*Com informações do CFO.