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O papel do cirurgião-dentista no atendimento a pacientes com fissura labiopalatina

A fissura labiopalatina afeta aproximadamente uma criança a cada 650 nascimentos no Brasil. Trata-se de uma condição congênita que provoca abertura no lábio e/ou no palato, comprometendo o desenvolvimento da face e gerando impactos estéticos, funcionais e psicossociais.

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) e os 27 Conselhos Regionais reforçam o papel essencial da Odontologia na reabilitação desses pacientes, com atuação direta do cirurgião-dentista em todas as fases do tratamento, desde as primeiras intervenções cirúrgicas até a reabilitação oral e maxilofacial.

Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), do Ministério da Saúde, a fissura labiopalatina decorre de alterações na fusão dos processos faciais durante a gestação. Os tipos mais comuns são:

  • Fissura labial: abertura no lábio superior (unilateral ou bilateral);
  • Fissura palatina: abertura no palato, podendo ser completa ou incompleta;
  • Fissura labiopalatina: abertura que compromete simultaneamente lábio, maxila e palato.

O presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF), Dr. Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos, destaca que há protocolos cirúrgicos específicos para cada fase do desenvolvimento. “Até os dois anos de idade, realizam-se cirurgias de fechamento das fissuras, como a palatoplastia, com o objetivo de restaurar a anatomia e a função. O fechamento do lábio costuma ocorrer entre os 8 e 14 meses, período em que erupcionam os incisivos superiores e inferiores.”

Nos casos mais complexos, em que a fissura transpassa o lábio, maxilar superior e palato, são necessárias múltiplas intervenções. O conselheiro do CFO, Dr. Romildo Bringel, especialista em CTBMF, explica que a abordagem inclui o fechamento do lábio, posterior correção do palato e, em uma etapa seguinte, a cirurgia de enxerto ósseo. O material pode ser retirado da mandíbula ou da crista ilíaca — nesse último caso, com participação de um médico responsável pela coleta do osso.

Na adolescência ou fim da puberdade, pode haver indicação de cirurgia ortognática para correção de discrepâncias esqueléticas remanescentes. “Esse procedimento traz ganhos funcionais importantes, além de melhorar a estética facial e a autoestima do paciente”, complementa Dr. Belmiro.

O tratamento é multidisciplinar, envolvendo profissionais de diversas áreas da Saúde, como cirurgia plástica, otorrinolaringologia, anestesiologia, enfermagem, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia e terapia ocupacional. No campo da Odontologia, além do cirurgião bucomaxilofacial, atuam especialistas em Ortodontia, Odontopediatria e Dentística. “O ortodontista tem papel essencial no preparo ortodôntico do paciente para a realização do enxerto ósseo e para o alinhamento oclusal”, acrescenta Dr. Romildo.

As complicações associadas à fissura labiopalatina começam ainda na primeira infância, com dificuldades de amamentação, deglutição e ganho de peso. Além disso, a condição interfere no desenvolvimento da fala, na respiração e na formação da arcada dentária.

Para o CFO e os CROs, é fundamental que as políticas públicas priorizem o atendimento integral a esses pacientes. “Apesar de o tratamento estar disponível no SUS, ainda vemos casos de adultos que só conseguiram realizar as cirurgias tardiamente, enfrentando impactos profundos na autoestima e na inserção social e profissional”, alerta Dr. Romildo Bringel.

O tratamento precoce e completo pode transformar vidas. Por isso, reforçar a rede de atendimento e promover o acesso universal a essas intervenções é um compromisso que envolve toda a sociedade.

*Com informações do CFO.

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