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Semana Nacional de Políticas sobre Drogas traz alerta sobre impactos das substâncias psicoativas na saúde bucal dos pacientes

Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo CFO e 27 CROs de todo país, destaca a importância do atendimento odontológico para dependentes químicos

A Lei Federal 13.840 de 2019 instituiu oficialmente a Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, a ser comemorada anualmente na quarta semana de junho. Neste ano de 2025, o período inicia-se nesta segunda-feira (23), sendo que entre seus principais objetivos está a difusão de informações sobre os problemas decorrentes do uso de drogas. Por esse motivo, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e os 27 Conselhos Regionais de todo país, faz um alerta para os impactos negativos das substâncias psicoativas na saúde bucal dos usuários.

Os indivíduos que fazem uso de drogas ficam mais propensos a ter o organismo debilitado de forma geral e a imunidade reduzida, condições que aumentam as chances de contração de doenças e de más condições de saúde, incluindo sérios problemas na cavidade bucal. Além disso, a dependência química, associada à vulnerabilidade socioeconômica, comumente leva a deficiências nutricionais, além de negligência com a higiene pessoal e reduzida procura aos serviços de saúde, entre eles os consultórios odontológicos.

A boca está bastante suscetível a processos de degradação pelo uso de substâncias químicas, uma vez que é porta de entrada para diversas drogas como, por exemplo, maconha, crack, ecstasy, LSD, anfetaminas e solventes. O mesmo ocorre com o tabaco e o álcool, consideradas drogas lícitas, ou seja, de comercialização e uso liberados. Outras substâncias, que não são comumente usadas por via oral, como é o caso da cocaína, mais frequentemente aspirada, e a heroína, que é injetável, também provocam impactos bastante negativos na cavidade oral.

Câncer de boca está entre consequências mais graves

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 15.100 novos casos de câncer da cavidade oral sejam diagnosticados no Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025. Estatísticas indicam que usuários de tabaco e álcool estão entre os principais grupos de risco para a patologia, que ocupa a oitava posição entre as doenças oncológicas mais frequentes no Brasil.

A cirurgiã-dentista e doutora em Patologia Bucal, Rosana Giordano, que é professora Emérita da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), destaca que o uso das drogas ilícitas também aumenta a probabilidade de desenvolvimento de lesões oncológicas na boca. “Todas as drogas têm efeitos deletérios na boca. A mucosa que reveste a cavidade bucal é delicada e sofre com qualquer tipo de agressão. As substâncias químicas provocam a redução da saliva, propiciando o surgimento de irritações e lesões ulceradas ou brancas que podem mais facilmente evoluir para o câncer de boca”, aponta Rosana, que também é presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Odontologia do Mato Grosso do Sul (CRO-MS).

Outros impactos: da halitose à perda dentária

Usuários de drogas podem sofrer com os mais diversos problemas bucais, sendo os mais leves a halitose, o escurecimento dos dentes, a xerostomia e a queilite angular, caracterizada por fissuras e manchas vermelhas nos cantos dos lábios. Além disso, eles estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de cárie, em razão da baixa produção de saliva, maior concentração de placa bacteriana e maus hábitos de higiene bucal.

Os quadros clínicos podem ser agravados pelo surgimento de infecções bucais, doenças periodontais e perda óssea, que podem levar inclusive a perdas dentárias. Outra questão que contribui para erosões e degradações dos dentes é o apertamento, considerado um efeito comum das drogas psicoativas. Destaca-se ainda que a deterioração dos sorrisos pode contribuir para ampliação de quadros de baixa autoestima e depressão em dependentes químicos.

A cirurgiã-dentista Rosana Giordano lembra ainda que a dependência química está diretamente relacionada a casos de violência doméstica, com altos índices de agressões envolvendo fraturas orofaciais em parceiras dos usuários. “A drogadição, considerada uma doença pela Organização Mundial de Saúde, tem impactos sociais importantes. Ela afeta não apenas o dependente químico, mas todo seu entorno familiar. Essas pessoas precisam de assistência adequada”, pontua.

Cirurgiões-dentistas possuem importante papel na reabilitação de usuários

O coordenador da Comissão de Políticas Públicas de Saúde Bucal do Conselho Federal de Odontologia (CFO), Gilmar Trevizan, destaca que o atendimento aos dependentes químicos deve ser multidisciplinar e que as equipes de atendimento odontológico são de fundamental importância no contexto da reabilitação.

“O cirurgião-dentista fará a avaliação, diagnóstico e tratamento das degradações presentes na cavidade bucal, sendo que no caso de suspeita de câncer de boca, ele fará o adequado encaminhamento. Além de promover a saúde da boca desses indivíduos, o atendimento odontológico ainda possui forte peso na devolução da autoestima dos pacientes”, esclarece.

Gilmar Trevizan ressalta também a importância de que as políticas públicas de atendimento a usuários de drogas incluam as equipes de Saúde Bucal. “A Odontologia é uma peça fundamental no atendimento e tratamento dos dependentes químicos. A Semana Nacional de Políticas sobre Drogas é um importante momento para debatermos esse tema e levarmos informação e esclarecimentos a toda a população”, conclui.

*Com informações do CFO.

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